Machados



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Os machados estão presentes em todas as partes da Era Viking. O motivo disso é bem simples: eles eram, antes de armas, ferramentas indispensáveis para a vida desses homens. Então, a maioria dos machados usados em batalhas, saques e guerras, nada mais eram do que armas improvisadas.

Existem duas variantes básicas de machados que usamos: de uma mão ou de duas, também chamados de daneaxes ou machados daneses.

Alguns machados do grupo. Os menores possuem cabos de aproximadamente 50cm. Os machados daneses possuem caboscom cerca de 1,55m.

Os machados de uma mão são simples cabeças de ferro com cabos medindo entre 40cm a 90cm, embora cabos em torno de 50-60cm sejam muito mais fáceis de se manejar. Usualmente, tinham a parte cortante feita de aço para manter melhor o corte, mas nem sempre.

Os daneaxes surgiram como uma adaptação dos machados de cortar lenha ou usados para o abate de animais. Pelo que temos de referência do período, possuiam cabos entre 1,1m e 2m, sendo os cabos maiores usados, talvez, como símbolo de status. No Escudo dos Vales temos um limite de 1,6m, porque cabos maiores são bastante desengonçados sem o treinamento apropriado e, principalmente, para não gerar uma vantagem muito grande sobre as outras armas.
Evitamos essa vantagem no grupo pois, apesar da preferência por espadas na época, o machado danês era uma arma perigosíssima por si só. Diz-se que Canudo, o grande, só adimitia lutadores que soubessem usá-los em sua guarda pessoal.

O daneaxe é uma arma associada a Santo Olavo da Noruega que morreu em 1030. A imagem é uma representação do "Rei Eterno da Noruega" que data do início do século XV, na igreja de Overselo, na Suécia.

Com origem escandinava, o machado danês começou a se espalhar por toda a Europa à partir da segunda metade do século X, embora mesmo antes disso é provável que fosse usado em qualquer lugar onde uma tripulação profissional de guerreiros viajasse. Por este motivo, todo e qualquer membro do Escudo dos Vales pode usar daneaxes, independente do período e região recriada, já que a região do báltico fervilhava de viagens de comércio ou raides muito antes da Era Viking.

Ana Comnena, princesa bizantina do século XI, descreve os membros da guarda varegue do imperador como "bárbaros usuários de machados", tal como muitos outros historiadores gregos, desde a origem da guarda até pelo menos o século XII, que os chamavam de "a guarda que usa machados". Junto com algumas imagens de crônicas e outras representações da arte bizantina, podemos dizer que se tratavam de machados daneses e isso indica que a arma atravessou um continente em poucas décadas com seus usuários de origem nórdica.

Placa de marfim bizantina mostrando um homem e seu machado. Apesar do estilo clássico do guerreiro, as armas são evidentemente estrangeiras, mostrando um machado danês e uma espada tipo X Petersen ou tipo IV/VII Wheeler. A peça está claramente fora de escala, como pode ser visto pela espada, mas sugere que os machados fossem, além de importantes aos varegues, encabados com uma altura próxima à do guerreiro. A peça se encontra hoje na Alemanha.

O machado danês permaneceu sem alterações até o século XIII, quando começou a ser substituído por outras armas de haste, como a alabarda e pollaxe, ambas evoluções ao modelo original. Na Escócia, os Galloglass, uma espécie de mercenários de elite dos clãs de origem nórdica da região, o daneaxe permaneceu em uso até o século XVI, provando a eficiência e versatilidade da arma.

A tapeçaria de Bayeux, confeccionada, provavelmente, no final do século XI, mostra muitos homens usando machados daneses, de ambos os lados da batalha entre normandos e saxões.

Hoje em dia, para o recriacionista viking, o machado é a arma perfeita, muito superior em alguns detalhes do que os machados da época. Primeiro pois não temos espadas afiadas cortando e quebrando nossos cabos, o que devia ser um defeito terrível na época. Segundo porque podemos escolher madeiras independente das disponíveis na região, fazendo com que, além de não serem devoradas por armas cortantes, sejam resistentes aos impactos. Terceiro pois não dependemos nossas vidas aos nossos machados e no caso do cabo quebrar, basta substituí-lo em algum momento, sem se preocupar em encontrar a madeira apropriada para usar a arma na batalha iminente. E quarto pois temos a "liberdade poética" de usar luvas reforçadas com produtos modernos, compensando a falta de defesa para as mãos que o machado causava. Quatro fatores que parecem bobos, mas que mudam completamente a relação do machado com outras armas do período.

Comparação entre machados distintos.


Numa comparação entre machados de uma e duas mãos, machados de uma mão inevitavelmente tendem a ter cabeças menores e, consequentemente, mais leves. Também existem machados em forma de L que servem como ganchos para escudos, machados pequenos para entrar em pequenas brechas (como a viseira dos elmos) e machados com formatos próprios para arremesso, embora estes últimos não sejam usados pelo Escudo, exceto para os vikings daneses do primeiro milênio, pois se tratava, essencialmente, de uma arma franca. Mesmo assim, nunca devem ser usados em combate, devido aos riscos que oferecem não só aos lutadores como ao público que geralmente cerca as apresentações. Os machados de duas mãos podem possuir cabeças mais largas e pesadas, embora não seja uma regra.

Exemplos de machados de arremesso, ou francisca

Todos os machados usados pelos membros do Escudo dos vales precisam, obrigatoriamente, ter um formato autêntico para o período, diferente do formato das cabeças compradas em lojas de ferragem ou de ferramentas. Uma dica é comprar uma cabeça já pronta e desbastá-la até a forma desejada e arrancar o fio.
A lâmina dos machados deve ter, pelo menos, 2mm e as partes pontiagudas devem ser arredondadas.

Machados diversos do período. As cabeças inferiores pertencem a machados daneses.


Membros que desejarem usar os machados daneses devem obrigatoriamente, ter uma presença constante nos treinos, pois é uma arma terrivelmente perigosa, mesmo cega e com pontas arredondadas.

Cabeça de machado de Lokrume, Suécia. Note a concentração de massa (e peso) na parte do corte, para impactos mais devastadores.
 
Para fins de uso em luta, machados de uma mão com cabos entre 50-70cm possuem um comportamento similar ao de espadas mais curtas, mas com algumas vantagens e desvantagens. Quase todas as técnicas de manuais medievais aplicadas para espadas funcionam para machados sem muitas alterações (exceto as que envolvam o forte da lâmina). Além dessas, o machado, independente do formato de sua cabeça, é muito útil para puxar escudos e armas, ainda que os em forma de L sejam mais eficazes. Hoje, graças às vantagens já citadas, um machado perde pouco em versatilidade para espadas e nas mãos de um lutador dedicado, pode até mesmo superá-las.

Cabeça de machado em forma de "gancho" de Upsalla, Suécia.